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26 de Abril de 2024

O oncologista que trata o filho com Canabidiol

“Sei que posso ser condenado por três crimes, mas não vou parar”. Pai de um menino de 6 anos, médico oncologista revela como era a vida da criança antes do canabidiol e como está agora. Ao manter o CBD na lista de proscritos, a Anvisa deu um tiro no pé, não ouviu os pais que passam por esse sofrimento.

Publicado por Pragmatismo Político
há 10 anos

O oncologista que trata o filho com Canabidiol

Depoimento do Oncologista Leandro Ramires

O Benício não foi planejado, mas, desde o começo, lutei para ficar ao lado dele. Tenho a guarda, sou pai e mãe. Ele nasceu bem e se desenvolveu normalmente até o quinto mês, quando teve a primeira crise convulsiva, que durou 40 minutos. Levei ao hospital, ele foi examinado e ficou em observação por 12 horas. A princípio, parecia apenas uma reação à vacina tríplice que havia tomado. Só que, dois meses depois, aconteceu de novo. Meu filho entrou em status epileticus (crise convulsiva que não para sozinha) e teve sua primeira internação no CTI. Aí começou a luta.

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Desde então, ele passou a ter até nove crises por dia. De madrugada, acordava gritando, com febre. Tenho um diário com tudo o que passamos. Em 2010, aconteceu a segunda internação, por causa de um ataque que comprometeu a respiração. A crise durou tanto tempo que Benício entrou em coma. Após 12 dias em coma profundo, o médico disse que faria um eletroencefalograma para saber se meu filho ainda tinha atividade cerebral. Caso não tivesse, seria considerado morto. Eu cheguei a preparar o documento para doar os órgãos dele e minha família chamou um padre, que deu a extrema unção. Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Mas o Benício acordou momentos antes de fazer o exame. Minha família acha que teve um dedo de Deus. Eu, como médico, estou acostumado com essas coisas.

Em novembro de 2011, veio o diagnóstico de síndrome de Dravet, uma das doenças que determinam o quadro de epilepsia de difícil controle, e que é causada por uma mutação genética. Estima-se que ela afete uma pessoa em cada 20 mil. O prognóstico da doença é péssimo – não existem adultos vivos com essa síndrome. Quando a crise epilética começa, o corpo inteiro treme e a contração muscular é tão intensa que provoca dor e chega a impedir a respiração. Por causa das convulsões constantes, Benício não conseguia frequentar a escola. Por isso, durante o dia, enquanto eu trabalhava, ele ficava na casa da minha mãe, com uma cuidadora que contratei. Muitas vezes, saí no meio do trabalho para socorrer o meu filho em crise. Ele virou figurinha conhecida nos hospitais de Belo Horizonte (MG). Eu corria com ele para o hospital pelo menos três vezes por semana. O Benício foi internado 48 vezes em seis anos de vida.

Todas essas convulsões deixaram sequelas. O meu filho não fala e o desenvolvimento psicomotor foi extremamente prejudicado. Para ele, cada segundo de vida tem um grande valor. A demora para receber atendimento durante a crise é prejudicial. Tanto nos hospitais públicos como nos privados, o socorro neurológico é muito precário. Então, eu mesmo passei a fazer o atendimento quando ele entrava em crise. Fui muito questionado, mas só fazia quando necessário, em situações de emergência. Tenho todo o equipamento, carrego praticamente um CTI no porta-malas do carro.

Os médicos receitaram diversos medicamentos fortes para a doença de Benício. Mas, mesmo tomando 13 comprimidos por dia, as crises diárias continuavam. Foi então que eu soube que os pais de Anny estavam usando o canabidiol para medicar a filha. Entrei em contato e eles me passaram o caminho das pedras, a estratégia para trazer ao Brasil. Um amigo de infância que trabalha como operador de turismo nos EUA se dispôs a ajudar. É ele que me manda pelo correio. Nós nos comunicamos por e-mail com o código Charlie-Bravo-Delta, típico da linguagem de agências de turismo, para nos referirmos ao CBD sem sermos explícitos. O produto é fabricado na Califórnia e vem em seringa plástica, na forma de pasta.

Eu me baseei em pesquisas americanas para determinar a dosagem, e funcionou muito bem. Com 76 dias de uso, o meu filho está ótimo. Ele começou a entender a função dos objetos e está interagindo melhor com as pessoas. Agora, dorme a noite toda e o bruxismo diminuiu. Ele tenta se comunicar com voz, começou a se vestir com mais independência, atende quando o chamamos e compreende quando tem que esperar. Outro dia, até riu do próprio pum – isso era impensável! Em poucos dias, ele mostrou um desenvolvimento que nunca teve em toda a vida. E, o melhor de tudo, é que as crises, que eram diárias, diminuíram muito: em 76 dias, foram apenas seis, bem leves.

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No segundo semestre deste ano, ele poderá ir para a escola. Ainda que não aprenda como os outros, o Benício vai conviver com as crianças, será incluído. Ao manter o CBD na lista de proscritos, a Anvisa deu um tiro no pé, não ouviu os pais que passam por esse sofrimento. Os resultados do uso do canabidiol são tão bons que estimulam a desobediência civil. Eu vou desobedecer. Não existe autoridade no Brasil que me impeça de dar CBD ao meu filho. Sei que importando o produto posso ser condenado por três crimes: tráfico internacional de drogas, articulação por tráfico e por dar a substância para o meu filho. Não tenho dúvida dos benefícios do CBD. Se for impedido de fazer isso, eu imigro para o Uruguai.

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Contrabando de remédios é o fim da picada. A Anvisa é o mesmo órgão regulamentador que homologou a Diet Coke como bebida funcional?
Diariamente essa agência assina o seu atestado de incompetência e seus agentes que vivem de subornos e lobby enriquecem às custas de crianças que não podem receber uma medicação.
Tem o meu total apoio o "médico traficante" se fosse comigo, faria o mesmo.
Devemos derrubar todo o rol de analistas da Anvisa (principalmente quem assinou que a coca zero é bebida funcional além de exonerado, merece ir pro inferno por atestar o envenenamento de milhões com aquele refrigerante maldito) e começar do zero com pessoas idôneas e sérias. Retirar essa quadrilha de oportunistas políticos de dentro desse órgão essencial para nós.
Tenho filha, faria tudo por ela. Não tenho como medir a dor desse pai e nem ao menos senti-la, mas quando imagino, quase choro. continuar lendo

Sr. Rafael de Souza, ótimo comentário.

No Brasil atualmente morre mais pessoas por obesidade e hipertensão do que a alguns tempos atras, graças a Anvisa que retirou das prateleiras das farmácias os inibidores de apetite. Como por exemplo a Sibutramina e outros mais.

Parabens a este pai! continuar lendo

Perfeito comentário. Fiquei emocionada. É lamentável , mas vivemos num país em que o Governo mata seu povo aos poucos. Quem deveria cuidar de nós é quem mais nos oferece perigo. Temos o salário mínimo mais ridículo, a maior carga tributária e uma corja de ladrões que todos os dias se sentam em suas cadeiras confortáveis para inventar uma nova maneira de nos minimizar ainda mais e, assim, aumentar suas contas bancárias Infelizmente isso é Brasil. continuar lendo

Eu concordo com a atitude realizada pelo pai do menino, pois ele procurou um tratamento médico para curar a enfermidade de seu filho.

Afigura-se revoltante que a ANVISA proíba o uso de maconha como remédio, quando já ficou cientificamente comprovado sua eficácia no tratamento de várias patologias, inclusive vários países já admitem o uso de maconha para fins terapêuticos.

Em um total contrassenso, a ANVISA permitiu a venda de outras drogas, que são inclusive mais nocivas à saúde humana, como o álcool e o tabaco.

De acordo com a pesquisa realizada pelo Jornal inglês "The Lancet Medical Journal", o ranking das drogas de acordo com os danos causados é o seguinte;

1-) Heroína;
2-) Cocaína;
3-) Barbitúrico;
4-) Metadona;
5-) Álcool;
6-) Ketamina;
7-) Benzodiazepínico;
8-) Anfetamina;
9-) Tabaco;
10-) Buprenorfina;
11-) Maconha.

Fonte: Revista Domínios - XV - 162 - Nov/Dez. 11 - página 36. continuar lendo

Doutor, faça valer seu direito. Existe uma tese chamada de Estado de Necessidade exculpante. tem como finalidade a exclusão da culpabilidade pela inexigibilidade de outro comportamento. Para explicar o instituto ocorremo-nos as duas teorias. A teoria unitária reconhece o estado de necessidade apenas como causa de excludente de ilicitude, seja sacrificando bem jurídico de menor valor para salvar o de maior valor ou sacrifício de bem jurídico de igual valor ao salvo. A teoria diferenciadora admite o estado de necessidade como excludente de ilicitude quando houver sacrifício de valores menores para salvar valores maiores - e o estado de necessidade como excludente de culpabilidade sacrifício de valores iguais aos que se salvam, ou mesmo de valores maiores, desde que inexigível comportamento diferente.

O Código Penal brasileiro, divorciando-se do Direito alienígena, adotou a teoria unitária do estado de necessidade excluímos a ilicitude quando houver sacrifício de bem jurídico de igual valor ou de menor valor do que o salvo. Entretanto, o estado de necessidade exculpante poderá ser reconhecido como causa supralegal de exclusão da culpabilidade, caso o bem jurídico sacrificado seja de maior valor do que o salvo, se presente a inexigibilidade de outro comportamento Se quiser utilizar-se destes argumentos, boa sorte! continuar lendo

Muito bem pontuado Dr.! continuar lendo

É isso!!! Infelizmente toda repartição e agente público no Brasil trabalham apenas para benefício próprio. O interesse do Estado se resume em quanto os PODRErosos ganham por baixo dos panos. continuar lendo

A ANVISA trabalha para as grandes corporações, se a substância tem potencial para gerar lucros é aprovada, caso contrário não. continuar lendo

A mais pura verdade. continuar lendo